Gabriel Tupinambá

O que é Abstração Real, Mesmo? – Número 67 – 06/2012 – [201-209]

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Continuamos aqui nossa investigação da noção de laço social na teoria žižekiana da ideologia. Apresentaremos um outro recorte desse estudo, dando prosseguimento ao texto anterior (Breviário, 03/2012)

As ideias…, as ideias, confesso, interessam-me mais do que os homens; interessam-me acima de tudo. Elas vivem; combatem; agonizam como os homens. Naturalmente pode-se dizer que só as conhecemos pelos homens, assim como só temos conhecimento do vento pelos caniços que ele inclina; mas mesmo assim o vento importa mais do que os caniços.

–  O vento existe independentemente dos caniços – arriscou Bernard.

Sua intervenção fez saltar Édouard, que a esperava havia muito tempo.

– Sim, eu sei: as ideias não existem senão pelos homens; mas é aí mesmo que está o patético: elas vivem às custas deles”

(André Gide, Les Faux-Monnayeurs)

Em nossas elaborações anteriores, tentamos entender de que maneira o conceito de abstração real, tal como desenvolvido por Alfred Sohn-Rethel, contribui para a análise marxista da forma da mercadoria. Partindo do problema da autonomização das formas sociais – aspecto fundamental da estrutura dos novos artigos financeiros que guiam a economia contemporânea – retornamos aos primeiros capítulos de O Capital e tentamos esclarecer a estrutura da forma-valor apresentada por Marx de modo a torná-la compatível com sua radical autonomização do valor contabilizável como capital real. Continue Lendo

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O que é abstração real? – Número 54 – 03/2012 – [51-70]

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A presente investigação faz parte de um estudo mais abrangente sobre a noção de laço social em jogo na teoria lacaniana da ideologia, tal como desenvolvida principalmente por Slavoj Žižek (Žižek, 1999; 2002; 2006; 2011). As elaborações aqui apresentadas focam exclusivamente em um dos pilares fundamentais dessa teoria e tem o intuito último de esclarecer o assunto em questão para nós mesmos.

Um dos grandes desafios da atualização da crítica marxista da economia política é o problema que a teoria monetária de Marx enfrenta com o aparecimento do dinheiro inconversível (HARVEY, 1999; ROTTA, 2008). Mesmo em seu tratamento do sistema de crédito e do capital fictício, Marx mantém que a tensão essencial entre o dinheiro como medida de valor e meio de circulação é sustentada pela reserva de metais preciosos, que dota a moeda com seu valor de equivalência (MARX, 2008: 534-536), não considerando o caso – que é o nosso desde 1971 – de uma moeda internacional cuja função de medida de valor não é lastreada pelo padrão-ouro, mas garantida exclusivamente pelo poder do Estado (HARVEY, 1999: 292-296). Continue Lendo

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