O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.
(João Cabral de Melo Neto, O engenheiro)
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Três características costumam ser atribuídas à obra de João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano nascido em 1920: a secura, a dobra da palavra e o lirismo contido, esta como um desdobramento daquela primeira. Isso porque o elemento que corta toda sua produção poética não é outro senão a pedra; a pedra em seu estágio pétreo. Citemos dois marcos, Pedra sono (1942), livro de estreia, e A educação pela pedra (1966), como exemplos, em que o substantivo apresenta-se já prenhe de sentidos aos olhos do leitor ainda no título da obra. A pedra é o elemento na construção arquitetônica de João, uma construção devidamente medida, esquadrinhada, na sua secura, na sua dobra, no seu estado condensado. A pedra é a palavra, também seca, dobrada, condensada, um instrumento de corte, a peça ajustada de uma máquina chamada linguagem. Continue Lendo