Author Archives: Pedro Fernandes

About Pedro Fernandes

É aluno do Doutorado em Literatura Comparada no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPGeL) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). É autor de Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago.

Manoel de Barros ou nas Mínimas Expressões está Toda Poesia – Número 142 – 01/2017 – [02-14]

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Os versos de “No meio do caminho”, poema de Carlos Drummond de Andrade que apareceu publicado primeiro numa edição da Revista de Antropofagia e dois anos depois, em 1930, foi incluído no volume Alguma poesia, inaugura – se não, renova – o tema da expressão mínima e vulgar como objeto original e propiciador do poético, efeito sempre condicionado a elementos de natureza sublime que outros poetas desde sempre tiveram ou designaram como ato epifânico, devaneio, sonho, resultado da inspiração, produto de um exercício tecnicamente elaborado. Evidentemente que a afirmativa sobre o poema do poeta mineiro não esquece os feitos de outros poetas. Dez anos antes, Manuel Bandeira já havia abalado a condição quase-sagrada da poesia com os também muito conhecidos versos de “Os sapos” – este é só um exemplo. Continue Lendo

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Desde o Princípio, o Feminino como Obsessão Temática em José Saramago – Número 116 – 12/2013 – [184-192]

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Eu estou inventando mulheres ou, talvez, outra forma de ser mulher.

José Saramago

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Há dois instantes singulares na obra de José Saramago em que uma personagem feminina irrompe a malha textual e passa a ocupar o estágio de ponto cardeal no desenvolvimento da narrativa: em Memorial do convento, com Blimunda e em Ensaio sobre a cegueira, com a mulher do médico. Foi nesse último romance que, movido em saber o porquê uma mulher em meio a uma epidemia que vai solapando um a um com uma estranha cegueira não cega, fui à cata de pensar, em primeiro lugar, que as personagens femininas saramaguianas eram dotadas de uma característica que as faziam singulares na sua obra [1]. O contato com outros trabalhos acadêmicos de pequena extensão sobre essa singularidade deu suporte para observar que a constatação já havia perdido seu ineditismo. E é possível mesmo que outros tenham lido melhor sobre esse tema, mas ainda assim, respeitando as particularidades já sondadas pela crítica, me pareceu ainda necessário cumprir um estudo de acurado fôlego que pudesse servir, se não de preenchimento de uma lacuna bibliográfica em torno da obra do Prêmio Nobel da Literatura Portuguesa, de ponto de partida para se pensar outros trajetos de uma trama tão bem urdida por ele – uma trama sobre o feminino. Continue Lendo

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João Cabral de Melo Neto. O Lápis, o Esquadro, o Desenho, um Projeto – Número 100 – 05/2013 – [82-85]

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O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

(João Cabral de Melo Neto, O engenheiro)

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Três características costumam ser atribuídas à obra de João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano nascido em 1920: a secura, a dobra da palavra e o lirismo contido, esta como um desdobramento daquela primeira. Isso porque o elemento que corta toda sua produção poética não é outro senão a pedra; a pedra em seu estágio pétreo. Citemos dois marcos, Pedra sono (1942), livro de estreia, e A educação pela pedra (1966), como exemplos, em que o substantivo apresenta-se já prenhe de sentidos aos olhos do leitor ainda no título da obra. A pedra é o elemento na construção arquitetônica de João, uma construção devidamente medida, esquadrinhada, na sua secura, na sua dobra, no seu estado condensado. A pedra é a palavra, também seca, dobrada, condensada, um instrumento de corte, a peça ajustada de uma máquina chamada linguagem. Continue Lendo

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