Author Archives: Cesar Kiraly

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Professor de Estética e Teoria Política no Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense.

Shame de Steve McQueen – Número 59 – 04/2012 – [121-122]

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Ao entrecruzamento de vistas no metrô há poucas alternativas, pode-se assumir o vazio, o caráter vagabundo dos olhos naquela circunstância, a frivolidade de certo espaço livre que permite o obliquo dos olhares, o tensionamento dos toques; ou pegar o celular e tornar evidente por representação (a presença fantasmática do ausente) de que não se está à mercê. Não é caso aqui de perguntar sobre aqueles que no trem estão a ler, pois tal nos levaria à oscilação entre o vazio e outra coisa. Ora, circunstâncias diferentes possuem modos distintos de vazio, nesse caso ele está na flutuação dos olhos. Continue Lendo

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Hume e a Verdade – Número 44 – 12/2011 – [171-177]

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“[E] apesar de todo o melancólico ceticismo, com o qual minha alma se debate, pressentimentos maravilhosos esgueiram-se dentro de mim”.

Heinrich Heine, Cartas de Helgoland, carta escrita no dia primeiro de Agosto.

Enfileiremos pensadores: Montaigne, Bayle, De Maistre, Burke. Dentre eles encontraria lugar, Hume. Mas qual seria o princípio de pertencimento, qual a semelhança de família? A prática da inovação formal – pelo tipo no verbete, pelo ensaio ou pela epístola – e da linguagem violenta. Não é simples medir a violência de um discurso, de alguma forma toda linguagem filosófica e política é violenta. Trata-se, nesse caso, de uma violência estética, decorrente da prática virtuosa do ressentimento moral. Para esses filósofos referidos, o mundo está ou devirá em perdição moral, salvo se for obrigado a suportar uma violência estética. Montaigne, Bayle e Hume, uma violência pictórica, presente na prática da descrição, seja pela paisagem, pelo retrato ou pelo abstrato. De Maistre e Burke, uma violência libertária, porque vinculada à autoridade. Na trinca, trata-se de se pintar paisagens, retratos ou quadros abstratos de crenças. Na dupla, a enunciação, que também é imagista, mas sem a mesma consciência dos céticos, concerne aos vislumbramento de uma humanidade carniceira. Esta, se vê obrigada, por reatividade, denunciadora de sua imoralidade, desde a enunciação, a se esforçar para não ver a carniçaria que se tornou a partir dos movimentos revolucionários. Por certo, o objeto acrescido pelo ressentimento pictórico, também é literário, mas o fato é que somos obrigados a ter paisagens de crenças distintas, retratos de sistemas filosóficos antagônicos e a admissibilidade da compreensão interna, inclusive, do dogma. Continue Lendo

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Ocupar – Número 39 – 11/2011 – [148-150]

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Um dos traços gerais das presentes ocupações ocidentes é a não-violência. O remetimento das ocupações ocidentais àquelas da Primavera Árabe não é evidente. Afinal, ocupar, ocupar mesmo, ocupamos todos. Além do que, a não-violência das “nossas” ocupações é mais uma marca distintiva. Continue Lendo

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Outra Sensibilidade – Número 36 – 10/2011 – [137-138]

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: – “As estações não são bem demarcadas”. Sempre estranhei essa afirmação. Porque nunca estive tanto tempo em outro lugar. Mas ainda sempre julguei um tanto bizarro esse modo de ver. Não por algum nacionalismo climático. Mas apenas por uma experiência. Sempre percebi as estações tão diferentes. A tirania empolgante do verão. A presente mortificação causada por ele dentre os mais tímidos. Mas também uma ostensiva empolgação nos mais expansivos. Uma louca aguaceira de outono. Tonalidades de amarelo. A afirmação clara de que o tempo que passa possui uma cor. Não quando passa para frente. Mas quando retorque em passar em círculos por um eixo que envelhece e que suporta toda a dança da morte, enquanto pode. As noites longas do inverno. O sumiço dos insetos. A lentidão dos mosquitos. Talvez fosse preciso a insensibilidade rotunda dos classificadores para não perceber que a umidade que atravessa o ano é sempre tão distinta. Não sei se pela asma dos meus pulmões. Ou por qualquer outra razão. Mas o fole de respirar se altera por completo entre o inverno e o verão. Os amores nascentes à primavera. Seria preciso enviar os olhos cegados para Berlim para não ver. Continue Lendo

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Política e Verdade – Número 33 – 10/2011

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Macabra Nosografia ou Teologia Negativa – Número 30 – 09/2011 – [113-115]

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O que se pode sentir diante de um corpo que se vê sendo morto? Continue Lendo

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Outros Critérios, os 300 anos de David Hume, uma entrevista com Cesar Kiraly – Número 28 – 09/2011 – [101-107]

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A Atualidade do Pensamento de Hume.

De alguma forma existe algo na preocupação com o cotidiano que não se altera. Talvez seja o caso de dizer que existe algo no cotidiano que se altera muito pouco com o passar dos séculos. Algo que faz com que as vidas de Pirro, de Sócrates, de Hume etc., sob certa observação, muito parecidas, não no modo pelo qual viram o mundo, mas a partir do qual o fizeram. Mas há também algo que muito se altera. Na verdade, muitas coisas se alteram. Mas o cotidiano da natureza humana permanece o mesmo. As cosmologias muito se alteram. Não temos como saber da pressão sobre Pirro ou Sócrates pelo carregamento das suas respectivas. A ordinaridade da vida cotidiana, também, muito se altera, Hume não pagava suas contas como Sócrates, e não o fazia como fazemos etc. Assim, há uma atualidade muito forte em Hume. E atualidade é um termo muito mais acertado do que contemporaneidade. Aquela exercida pela narrativa das impressões, das crenças e das instituições, mas tomando-as pela construção presente em seus veios, ou, até mesmo, no efeito causado pelo discurso religioso nesses veios. Se existe um encantamento cotidiano, ele se deve mais ao susto e quase nada à revelação, a não ser o susto da presença de uma tal coisa chamada revelação. Dessa forma, ainda que fale de uma vida diferente da nossa, ela é identicamente compartilhada por aqueles que vêem na experiência os veios de sua construção. A narrativa humeana, aquela que nasce da decantação do discurso de Hume, se interessa pelas coisas comuns, mas sob olhares de esteta. Atitude que sempre se opõe à abstrusidade filosófica, ou a sisudez de Estado. Continue Lendo

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Ler o Capital antes de nadar no Sena: impressões líbias – Número 27 – 08/2011 – [100]

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Diante da grossura dos Grundrisse, ela me falou considerar inaceitável a publicação daquilo que o autor não quis fazê-lo. Eu não soube o que dizer. Incapaz que sou de trair. Ou de me livrar dos despojos de qualquer delito. Meu corpo se adiantou. O dela foi depois. Sob uma mão apertada e um braço puxado. Abandonado o outro ao ar, eis que se fez puxadora de um volume à prateleira de Celan. Da recolha se nos encontramos com poemas por ele escritos sob segredo, encontrados depois de sua queda no Sena. Estava claro que o volume me era recomendado. Ela o fez. Aos poucos descobrimos que o livro tivera sido composto de versos encontrados em pastas etiquetadas. Amaldiçoei as moiras, pela ironia. Afinal, era claro que elas queriam me dizer que deve restar claro que além de não se respeitar os opulentos, a humilhação à vontade dos autores de livros belos e finos não deve ser diferente. Nas etiquetas estava escrito: [Não publicar depois de minha morte], [Não publicar depois de meu salto], [Não publicar em caso de vôo], [Não publicar sob a hipótese de fôlego anfíbio] e [Não publicar apenas por soluço]. Percebemos que o destino não respeita os dentes rangidos dos finos ou dos grossos. Sim, com a agudeza do canino rompi o plástico que guardava o livro da minha possibilidade de salto. Mas não sem antes perguntar à florista, por nós avistada: – se ela por acaso houvera lido o capital.

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Cesar Kiraly

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(Volume 8) Metafísicas do Olho: Variações I

Neste artigo procederemos a três movimentos, de algo que pode ser literariamente descrito como Variações: (1) narrativa sobre a arqueologia na obra de Michel Foucault. Porque aquilo que desejamos dizer adiante demanda certa ambientação que apenas uma forte filosofia dos discursos, dos arquivos e dos fragmentos é capaz de produzir, (2) corporificação do discurso com a metáfora do olho (a possível opacidade de um olho sem fundo, ou sem intimidade) e (3) a estruturação da idéia de opacidade da dor do outro. Desejamos mostrar que existe uma explícita complementaridade entre a identificação da fragmentação dos discursos, a identificação do esvaziamento dos olhos e a identificação da opacidade diante da dor do outro. Aproximaremos essas três identificações filosóficas com um imperativo moral cético: é na identificação da fragmentação dos discursos que percebemos e nos desviamos da opacidade do fundo do olho e opacidade da dor do outro. Porque se a opacidade da dor do outro é algo que se impõe pela necessidade, ela bem se diferencia da prática ativa de tornar a dor do outro uma dor opaca. Pela identificação da fragmentação dos discursos não só reconhecemos a opacidade, como instauramos, outrossim, outros regimes nos quais a opacidade possa se tornar sinônimo de intimidade expressiva, e não de abandono moral. No segundo movimento apresentaremos variações sobre um conto de Hoffmann e no terceiro movimento: variações sobre Regarding the Pain of Others de Susan Sontag. Um dos primeiros ensaios sistemáticos sobre uma teoria social da imagem fotográfica. Os fortes vínculos entre a arqueologia filosófica de Foucault e nosso interesse neste conto fantástico de Hoffman e nas análises de Sontag sobre a fotografia aparecerão na narrativa, e decorrem da estrutura das Variações.

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