A partir da década de 1970, o Brasil, do ponto de vista dos que produzem, aprendem ou, simplesmente, consomem conhecimento político sistemático, deixou de ser interpretado e passou a ser explicado por enunciados com pretensão à demonstração. Entre a interpretação e a explicação, o passo pretendido é gigantesco. Por certo, a legião de autores que, desde a implantação do Estado Nacional brasileiro, nos idos de 1822, buscou interpretar o que se passava no país possuía pretensões à explicação, posto que não constituída por nefelibatas puros. Da mesma forma, poderá ser dito que qualquer pretensão explicativa, por mais ingênua que possa ser a candura de sua auto-apreciação, jamais fugirá dos limites e das possibilidades estabelecidos por modalidades de interpretação. A distinção, pois, entre interpretação e explicação é, no limite, insustentável em termos conceituais. Se assim o é para o plano das definições categoriais, o mesmo não se dá no plano da afirmação de campos cognitivos.
(Volume 6) Da interpretação à ciência: por uma história filosófica do conhecimento político no Brasil, por Renato Lessa
(