- O GT Hume ANPOF é dedicado primariamente à discussão da obra do filósofo escocês David Hume (1711-1776). Além dos temas tipicamente filosóficos da obra do autor, tais como epistemologia, teoria das paixões, filosofia moral, filosofia da religião e filosofia política, o GT também pretende analisar outros trabalhos de Hume em áreas como a estética, a economia política e a história, considerados em relação às ideias filosóficas do autor. A comunidade de humeanos no Brasil é dispersa, e onde menos se espera, brota um novo amante do escocês; mas, de alguma forma, todos os caminhos levam a João Paulo Monteiro e Lívia Guimarães, às atividades do Grupo Hume na UFMG e do Laboratório de Estudos Hum(e)anos, inaugurado por Renato Lessa no que era o IUPERJ e hoje está na UFF. Antes de termos um GT, tínhamos compromisso com o Encontro Hume, iniciado em 2011 e hoje em sua nona edição, começado por Anice Lima e Cesar Kiraly, e com o Colóquio Hume, que inclusive sediou o encontro anual da Hume Society em 2013. Em 2012, por ocasião do aniversário de 10 anos do Laboratório de Estudos Hum(e)anos, o Colóquio sobre Ceticismo, estabelecido por Cesar Kiraly e Rodrigo Pinto de Brito e hoje em sua quinta edição, congregou pesquisadores sobre Hume, ceticismo antigo e moderno, e, junto com o Encontro Hume e o Colóquio Hume, faz parte dos eventos intermediários e de apoio ao GT Hume. O GT também dispõe de uma Revista acadêmica, a Revista Estudos Hum(e)anos, fundada por Renato Lessa e Cesar Kiraly e hoje sob os cuidados editorais de Alana Café e Vinícius França Freitas. Apesar de, na última década, ter consolidado sua trajetória, o GT Hume é um ambiente acolhedor e agradável para novos pesquisadores, aberto a abordagens comparativas e aos provenientes de outros programas de pós-graduação que não filosofia.
Iniciado em 2002, o Laboratório de Estudos Hum(e)anos é um espaço de reflexão, trabalho e inquirição filosófica, com vinculações multidisciplinares com os campos da teoria política, da ética, da moralidade e da estética.
O laboratório pretende estimular investigações no campo da filosofia política (clássica, moderna e contemporânea) que levem em conta as pretensões cognitivas e os desenhos de mundo presentes nos diferentes esforços de invenção e de representação da vida social. A premissa que informa esta orientação deriva de uma perspectiva fundada na tradição do ceticismo filosófico. Quer isto dizer que aquele campo é percebido como marcado por uma diversidade irredutível à operação de critérios de verdade capazes de estabelecer os termos efetivos da realidade. Uma realidade diante da qual as diferentes versões de mundo, presentes na tradição da filosofia política, devem ser cotejadas ou testadas.
A perspectiva adotada pelo laboratório demarca-se dos diversos tratamentos contextualistas – presentes em diferentes versões da história das idéias ou dos conceitos – e busca fixar uma tradição de trabalho filosófico sobre o campo da reflexão política, ética e moral. A orientação cética pode, ainda, ser detectada no reconhecimento do papel desempenhado pela crença no processo de invenção de mundos que constitui a matéria nobre da filosofia política. Como modalidade particular da criatividade humana, a filosofia política – assim como a ética e a filosofia moral – possui, ainda, forte interação – formal e substantiva – com questões presentes nos campos da arte e da estética. Vários dos problemas filosóficos relevantes para esses campos encontram equivalências – quando não identidades – em questões que incidem sobre a fabricação da filosofia política: forma, representação, referencialidade, mimetismo. O Laboratório interessa-se, com particular ênfase, por essa conexão, assim como na que se estabelece entre arte e moralidade.
Em vários sentidos, o Laboratório de Estudos Hum(e)anos evoca a figura de David Hume como referência:
1. Em sentido estrito, como espaço de reflexão e investigação sobre a tradição filosófica do ceticismo, e do papel central que ocupa em sua configuração moderna a filosofia de David Hume;
2. Como espaço de trabalho no campo da filosofia política e moral, percebido como domínio constituído por atos de crença;
3. Como lugar de uma reflexão experimental, voltada para questões de natureza pública, no sentido empregado por Hume na expressão ciência experimental da natureza humana: uma forma de conhecimento atenta aos efeitos das crenças sobre a configuração da experiência do mundo.
A inscrição filosófica presente no desenho do Laboratório, por suas conexões céticas, comporta, ainda, a consideração de temas que constituem experiência da vida comum. Para além de uma agenda cognitivista, o Laboratório ocupa-se, portanto, de questões de natureza prática, presentes em uma possível agenda de filosofia pública, voltada para a reflexão sobre fenômenos, dilemas e eventos traumáticos, e suas respectivas implicações normativas. Em outros termos, trata-se de fazer da filosofia política uma potência dotada da capacidade de intervenção cognitiva, crítica e normativa, diante de fenômenos da vida pública. O Laboratório apresenta-se como alternativa teórica e investigativa aos limites normativos presentes no projeto, ainda hegemônico, de uma ciência social positiva.