Sem título [René Magritte] – 1967.
“O Homem sabe que ele está no tempo por saber de antemão que irá morrer. A morte é a saída do tempo, como se somente á distância o conhecimento fosse possível”.
Georg Picht in Hier und Jetzt, Philosophieren nach Auschwitz und Hiroshima, Tomo I, Stuttgart 1980, p. 14
“Se víssemos bem o que vimos, seria sempre igualmente conhecido; mas o vemos de maneira totalmente diversa do que é. Assim, os verdadeiros filósofos passam a vida a não acreditar no que vêem, e a tentar adivinhar o que não vêem, condição esta, a meu ver, não muito invejável”.
Bernard de Fontenelle in “Diálogos sobre a pluralidade dos mundos”, p. 48
Roçava o indicador nos lábios, de cima a baixo, de um lado para outro, como se aquilo desse algum prazer secreto. A maciez do pomar, para ele, era a mesma quando deslizava sobre as teclas redondas da máquina de escrever ou os botões da camisa. Era uma mania descaracterizada e ausente, na qual nem as extremidades lhe bajulavam o ego. Faltava aquele fazer crer simplificado, aquela aspereza típica da sujeira – não o negrume denso, carregado, mas a sutileza que proporciona deslizamentos, espécie de atrito reduzido entre as partes. Era assim e não de outra forma que se punha a escrever pensamentos, chamuscações de um coração febril de produção por decantação – um modo complexo de uma mesma e única bajulação. Continue Lendo