Ler o Capital antes de nadar no Sena: impressões líbias – Número 27 – 08/2011 – [100]

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Diante da grossura dos Grundrisse, ela me falou considerar inaceitável a publicação daquilo que o autor não quis fazê-lo. Eu não soube o que dizer. Incapaz que sou de trair. Ou de me livrar dos despojos de qualquer delito. Meu corpo se adiantou. O dela foi depois. Sob uma mão apertada e um braço puxado. Abandonado o outro ao ar, eis que se fez puxadora de um volume à prateleira de Celan. Da recolha se nos encontramos com poemas por ele escritos sob segredo, encontrados depois de sua queda no Sena. Estava claro que o volume me era recomendado. Ela o fez. Aos poucos descobrimos que o livro tivera sido composto de versos encontrados em pastas etiquetadas. Amaldiçoei as moiras, pela ironia. Afinal, era claro que elas queriam me dizer que deve restar claro que além de não se respeitar os opulentos, a humilhação à vontade dos autores de livros belos e finos não deve ser diferente. Nas etiquetas estava escrito: [Não publicar depois de minha morte], [Não publicar depois de meu salto], [Não publicar em caso de vôo], [Não publicar sob a hipótese de fôlego anfíbio] e [Não publicar apenas por soluço]. Percebemos que o destino não respeita os dentes rangidos dos finos ou dos grossos. Sim, com a agudeza do canino rompi o plástico que guardava o livro da minha possibilidade de salto. Mas não sem antes perguntar à florista, por nós avistada: – se ela por acaso houvera lido o capital.

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Cesar Kiraly

Cesar Kiraly

Professor de Estética e Teoria Política no Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense.