Este Breviário em PDF
De tanto descrevermos como as coisas são
Todas as coisas deixaram de ser.
Restou a opacidade plena.
Na oficina do engenho
As ferramentas acumulam poeira.
A paisagem perdeu sua vertiginosa mobilidade
E todos os pontos
Observam imóveis seus devidos lugares
Nas coordenadas e abscissas.
E como nada mais era inventado
Nada se dava a ver
Aos olhos que buscavam o que é.
Ao se falar de uma cadeira
Eram encontrados os mesmos atributos
De um homem bom ou do melhor governo
Caiu sobre todas as coisas
O véu branco
Da semelhança absoluta.
Interrogada aquela pedra,
Não houve resposta
E ela sequer ficou no caminho.
(Pedro Raggio)
Qué es la vida? Un frenesí.
Qué es la vida? Una ilusión,
Una sombra, una ficción,
Y el mayor bien es pequeño;
Que toda la vida es sueño,
Y los sueños, sueños son.
(Calderón)
Procurarei, neste breve texto, identificar afinidades entre os Ensaios de Michel de Montaigne, as Ficções de Jorge Luis Borges e os Sermões do Padre Antônio Vieira, em vista de alguns elementos que compreendem a forma filosófica do ceticismo. Desde já, deixo claro que a busca por estas afinidades não se refere à tentativa de filiação destes três escritores à filosofia cética. Pretendo, antes, estabelecer pontos de contato que indiquem que estes autores compartilham alguns traços que fazem parte da forma filosófica. Não avento o deslocamento de Vieira e Borges de suas já sedimentadas incorporações, respectivamente, pelas letras seiscentistas e pela literatura fantástica do século XX, ainda que considere estas disposições artificiais. Continue Lendo