Oriente Médio foi uma palavra criada em 1902 por um oficial norte-americano chamado Alfred Mahan que afirmava que o país que controlasse o Oriente Médio seria capaz de controlar o mundo (Filiu, 2012: 63). Muitos países do Oriente Médio sofreram invasões, mas o Irã (antiga Pérsia) especificamente foi um alvo mais corriqueiro por conta da sua geografia, já que o Estado foi uma importante rota para o comércio mundial, ao localizar-se entre a Ásia e a Europa. O livro de Kamel explica que a antiga Pérsia foi rebatizada com o nome Irã (que significa terra dos arianos) pelo Xá Reza Pahlavi em 1935, porque ele preferia este nome e também porque a população já chamava o local assim. Alguns historiadores alegam que o Xá nomeou o lugar com este nome para agradar Hitler, mas isso nunca ficou provado uma vez que os cidadãos lhe conferiam este nome pelo fato de os colonizadores da Pérsia terem sido os arianos, portanto chamavam o país de Irã. Também na época em que o Xá estava na frente da máquina política, os cidadãos da Pérsia já denominavam o seu país como o Irã (Kamel, 2007: 117). Continue Lendo
A Morte é uma Flor: Diane Sbardelotto – Número 169 – 11/2018 – [75-78]
1. A dúvida dela era sobre como começar. Ainda não pudera verificar. Sabia que como título de livro não fora Celan que pensara em A Morte é uma Flor. Ela pensava nisso atenta à forma como lhe parecia único. O mais belo título jamais pensado teria sido estabelecido eivado de apocrifia. Seriam os poemas que ele não publicou ou julgou que era o caso de não fazê-lo. A morte retirara a liberdade de ter segredos reveláveis. A morte permitiu que desabrochassem sua intimidade. A memória parecia a enganar. Pode ser que A morte é uma Flor fosse o início de um poema por Celan esquecido e pela morte lembrado. Continue Lendo
Da Liberdade da Imprensa – Número 168 – 10/2018 – [72-74]
1. Nada é mais capaz de surpreender os estrangeiros do que a extrema liberdade de que desfrutamos neste país para comunicar ao público o que nos aprouver e para censurar abertamente qualquer medida introduzida pelo rei ou por seus ministros. Se a administração decide pela guerra, afirma-se que, de propósito ou por ignorância, incompreende os interesses da nação, e que a paz, na presente situação dos negócios, é infinitamente preferível. Se a inclinação dos ministros se volta para a paz, nossos escritores políticos nada inspiram além de guerra e devastação, e representam a conduta pacífica do governo como ruim e pusilânime. Como tal liberdade não é indulgenciada em nenhum outro governo, quer republicano, quer monárquico (em HOLANDA e VENEZA mais do que em França ou ESPANHA), isto pode mui naturalmente dar ocasião à pergunta: Por que acontece de apenas a GRÃ-BRETANHA desfrutar desse privilégio peculiar? Continue Lendo
Âmbar: Felipe Fernandes – Número 167 – 09/2018 – [68-71]
Release
Nesta sua individual à Galeria IBEU, Felipe Fernandes apresenta 30 quadros em que desloca a sua pesquisa aos pequenos formatos. São telas diminutas obtidas em saldo de armarinho ou como presentes em que o artista prepara abstratamente cenas que não chegam a acontecer, pelo menos nunca como ação evidente. Ele privilegia um clima alegre como nas colagens de Matisse, mas prevê momentos de boicote ao submundo, completamente, leve e festivo. Para obter tal efeito desenvolve diversas formas de moldura às abstrações. A pintura que desenvolve é fusionada à delicadas pétalas de papel, pedaços de fita crepe e imprevistas camadas de cola conferidoras de brilho à tinta. O drama das quase figuras começa e é interrompido antes de iniciar a narrativa.
Parede
Na ordem das escolhas do Felipe Fernandes, nos pequenos quadros da presente série, percebemos a bonita tensão sugerida por Lukács entre o destino e o tempo. A vida pela magia do destino tende a imergir de tal sorte no tempo que consegue até mesmo suspendê-lo. Donde o tempo passa e não sentimos a sua duração. A parte do tempo, ao seguirmos que está passando, ou nos deixa ocupados com as medições ou angustiados com o término: se cedo demais. A composição de Âmbar, na felicidade que sugere, mesmo em seus momentos sombrios, é claramente atinente ao destino. Mas a ação não se realiza, a cena é preparada, emoldurada até, e lindamente não começa. Nem mesmo os quase personagens se derramam em drama. A recompensa é que a pintura se fusiona à delicadas pétalas de papel, pedaços de fita crepe e imprevistas camadas de cola que trazem brilho. O destino, devora-nos e não sentimos. Se de acontecimento interrompido, deixa revelar a delicadeza dos reparos com que o tempo continua. Continue Lendo
Da Obediência Passiva – Número 166 – 08/2018 – [65-67]
Tradução de Bruna Frascolla Bloise
1. No último ensaio, tentamos refutar os sistemas especulativos de política introduzidos nesta nação; tanto o sistema religioso de um partido quanto o filosófico do outro. Vamos agora examinar as consequências práticas deduzidas por cada partido quanto às medidas da submissão devidas a soberanos. Continue Lendo
Os Ajudantes II: Sara Ramo – Número 165 – 07/2018 – [62-64]
1. Poderia então ser fornecida, num prólogo, a estrutura dos lugares escuros. Nela nunca se é e sempre se está. Isso pode ser melhor entendido nos seguintes termos: um ajudante não é solícito ou perigoso, ele estásolícito ou perigoso. O traje mostra bem o espírito do trânsito entre a solicitude e a periculosidade. Nos lugares escuros é imperioso portar uma fantasia, todos a usam, não importa qual seja, não importa quem seja. Neles se imagina sob intensas variações aquilo que se percebe habitualmente. Em suma, tudo é familiar e tudo é diferente. Continue Lendo
Da Escrita de Ensaios – Número 164 – 06/2018 – [59-61]
Tradução de Bruna Frascolla Bloise
1. A parte elegante da humanidade, que não está imersa na vida animal e se emprega nas operações da mente, pode ser dividida entre os estudados e os conversadores. Os estudados são os que escolheram para seu quinhão as mais elevadas e difíceis operações da mente, o que requer vagar e solidão, e não se pode levar à perfeição sem longo preparo e trabalho severo. O mundo conversador alia a certa disposição social e a certo gosto pelo prazer uma inclinação pelos mais fáceis e suaves exercícios do entendimento, pelas reflexões óbvias acerca dos assuntos humanos e dos deveres da vida comum, e pela observação das falhas e perfeições dos objetos particulares que o rodeia. Tais objetos de pensamento jamais fornecem emprego suficiente na solidão, senão requerem a companhia e a conversa das nossas criaturas irmãs para torná-los um exercício adequado para a mente: e isto une a humanidade em sociedade, onde cada um expõe os próprios pensamentos e observações da melhor maneira que conseguir, e mutuamente dá e recebe informações, bem como prazer. Continue Lendo
Os Ajudantes: Sara Ramo – Número 163 – 05/2018 – [52-58]
Eram seus olhos. Com eles, não via muito longe. E, no entanto, dizia que seus olhos eram os melhores que havia, o fanfarrão.
Robert Walser
[…] o vento soprava tão forte que apagou seus olhos. Ele quis acendê-los de novo, mas não tinha fósforos. Aí, começou a chorar […], porque não tinha mais como encontrar o caminho de casa.
Robert Walser
§ Este texto, essa crítica, repete-se. Ela se faz um tanto de algumas fugas com relação ao que pode ser incômodo e por isso habita nele. Isso não pode ser compreendido tão somente de forma negativa. Pois tal disposição de ouvir nos permitiu enxergar o que seria mais relevante para um conjunto de dúvidas, bem como, refazer o caminho que expõe certa injustificável inocência de convicções implícitas em certas práticas. Escutar nunca nos deixa cair. Daí que o trânsito do desamparo cruze o da política nem sempre olhando para os dois lados antes de atravessar. Continue Lendo