Maio

A primavera árabe e as lembranças de 1848 – Número 9 – 05/2011 – [28-30]

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As revoltas populares em países do Norte da África e do Oriente Médio vem sendo chamadas por muitos de “primavera árabe”. A onda de protestos e enfrentamentos iniciada na Tunísia no mês de janeiro já teve reflexos em pelo menos mais 13 países da região. Dois presidentes que ocupavam os cargos há décadas foram derrubados, um país está sendo bombardeado por uma coalizão internacional liderada pela OTAN, milhares de pessoas foram mortas, presas ou deslocadas e os conflitos ainda parecem longe do fim.

A idéia da primavera é uma metáfora expressiva para descrever estes acontecimentos, se tomarmos como referência as zonas temperadas do globo, em que as quatro estações do ano são bem definidas.  A primavera traduz-se no despertar da natureza após os rigores do inverno. É a vida que volta a brotar da terra adormecida. A primavera árabe, despertar de povos submetidos a governos de caráter autoritário, não é de modo algum um movimento com sentido único, deve ser reconhecida a pluralidade de questões que estão colocadas nos diferentes focos de insatisfação. O que há em comum nas diversas manifestações? Homens e mulheres que exigem “reformas políticas” e, sobretudo, melhores condições de vida. Continue Lendo

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Tomar a potência, desinflar o poder – Número 8 – 05/2011 – [22-27]

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Começo a escrever na noite de sexta-feira anterior à Marcha da Liberdade marcada para a avenida Paulista, 28 de maio – dia que no futuro talvez seja nome de rua. Provavelmente só vou terminar de manhã, logo antes de partir para a referida marcha. Aliás, bem disse alguém por aí: não se deveria dizer “marcha”, mas alguma outra coisa, porque a liberdade não marcha, ela dança. (Voltaremos a isso.) Sábias palavras.

É bem sabido que a Marcha da Liberdade foi convocada em reação à violência policial com que os aparelhos de poder receberam a Marcha da Maconha, no mesmo lugar, na última semana. Não estive nessa marcha, primeiro porque estava trabalhando. Mas também porque, não sendo consumidor da erva, deixo a quem de direito fazer valer sua voz e fico de fora, apoiando a iniciativa pelo seu valor democrático. E digo valor democrático com toda a ênfase que seja necessária: faz parte do conceito de democracia que possa haver manifestações pela legalização de coisas ilegais. A democracia é o regime onde as coisas se fazem às claras. No meu modo de ver, e não estou tentando insinuar nenhum tipo de comparação com a maconha, isso vale até para o neonazismo (a não ser quando parte para a agressão) e outras coisas revoltantes: antes ver acontecendo à nossa frente, a tempo de reagir, do que ser surpreendido quando ele toma a sociedade como um todo de assalto. Continue Lendo

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Lobato e o Racismo – Número 7 – 05/2011 – [18-21]

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Antes de tudo, penso que devo dizer que o contextualismo é sempre bastante falso. A regra de sua prática é a relativização. Ou, o que é bastante pior, o exercício do amálgama. Talvez pior do que o contextualismo seja o relativismo, mas o quadro se torna ainda mais apavorante quando os dois estão juntos. Mas por quê? Porque a união do contextualismo com o relativismo dá início à prática pública da falsificação de objetos verdadeiros. Modo pelo qual os valores parecem verdade, mas duram muito pouco. São valores bem mais baratos, quando comparados com os verdadeiros, exigem muito menos, e fornecem, no que concerne a vida coletiva, muito, mas muito menos ainda. Continue Lendo

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Bin Laden e o amesquinhamento de uma nação – Número 6 – 05/2011 – [16-17]

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Osama bin Laden, o líder máximo da Al Qaeda e autor intelectual dos atentados de 11 de setembro, que vitimaram cerca de três mil pessoas, foi assassinado no dia 1º de maio de 2011, numa ação promovida por forças estadunidenses e supervisionada diretamente pelo mandatário máximo dos EUA – o Presidente Barack Obama. Bin Laden foi morto numa casa localizada na cidade de Abbottabad, onde morava havia cinco anos, a cerca de uma hora da capital paquistanesa, Islamabad. Apesar de não ter sido divulgada nenhuma fotografia de Bin Laden, sua identidade teria sido confirmada por exames de DNA. Segundo as Forças Armadas estadunidenses, após a execução, seu corpo foi lavado e envolto em lençol branco, de acordo com os ritos islâmicos. Posteriormente, o corpo foi lançado no Mar da Arábia – o que contraria os ritos islâmicos – para evitar que o túmulo pudesse se tornar em objeto de culto de simpatizantes. Continue Lendo

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Resenha de ‘Subcultura e mudança’, de Candido Mendes – Número 5 – 05/2011 – [12-15]

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Em memorável texto, publicado nos idos da década de 1950, o filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto, exortou os que se dispusessem a interpretar o país de forma não usual a adotar do que designou como o “ponto de vista do infinito”. O texto em questão — Ideologia e Desenvolvimento Nacional, editado pelo Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) em 1956 —, uma obra-prima de clarividência e estilo, criticava hábitos intelectuais fincados na estrita finitude das coisas. Tal circunscrição, marcada pela obsessão com o imediato, caracterizava, para ele, o ponto de vista do finito, presente na fragmentação da experiência e na adoção de protocolos mentais meramente descritivos e, por essa via, cativos daquilo que se está a observar. Continuar Lendo

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